As nuvens negras do Tó

As nuvens negras do Tó desvaneceram-se na Lua Cheia
À saída do café, o primo cruza-se com o Tó.
Pergunta o primo ao Tó: "Como vais?"
O Tó responde: "Vou morrer... Queres vir?"
O primo replica, "deixa lá isso que não tenho pressa!"  E parte rindo.

Nesse dia, o Tó entrou em casa e ninguém mais viu o Tó, dois dias depois foi encontrado morto em casa...
Tinha 48 anos, não suportou o colapso do seu plano de vida, o álcool, a violência doméstica que culminou em divórcio e uma consequente espiral emocional negativa que tolheu o individuo, o impossibilitou fisicamente inadaptando-o para o trabalho, retirando-lhe apetite, alegria e qualquer motivação para viver.

Deixou-se ir por não encontrar nada que o fizesse ficar...

Era querido pelas pessoas, que o tentavam ajudar, chamá-lo à razão, aos bons modos e ao bem viver...
A teimosia aliada à espiral negativa de pensamentos, palavras e acções acabavam ali, naquela tarde de sábado, cinzenta, de brisa fria e chuva miudinha penetrante.

O Tó morreu...
A comunidade juntou-se para chorar o Tó e enterrá-lo.
Numa cerimónia onde o consciente colectivo se reúne lamentando a perda, mas também reflectindo nos meandros da vida e como as coisas podem mudar drasticamente.
Ia se ouvindo aqui e ali... "É a vida"...
A mim pareceu-me o fim dela, para alguém que desistiu e abandonou, simplesmente por se tornar insuportável o peso da realidade kármica.

A Lua cheia libertou o Tó para a eternidade, libertou-o do sofrimento e do peso da realidade kármica.
Que descanses em Paz.


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