Be S algado

Negociar à Salgado
Muita tinta correrá ainda sobre a novela do Bes e Ricardo Salgado, mas o comum mortal terá dificuldades em perceber a extensão da trama, até porque grande parte da mesma será oculta.

No mundo da alta finança, o Bes é uma espécie de aprendiz de feiticeiro, com uma extraordinária dimensão para o mercado português, nem tanto nos palcos globais.
Mas é sempre extraordinária a forma com que se negoceia com as mãos cheias de nada, apenas com a promessa de dinheiros futuros e nisso há méritos para Ricardo Salgado.

Claro que um dia o Rio mais forte pode secar e os moinhos que fazia girar param, mas essa será apenas a parte visível de um universo invisível de quem tudo se permite, ao agregar o santificado Espírito Santo no nome.

A engenharia financeira com que são entabulados estes negócios, escapa à inteligência do comum mortal, da comunicação social da especialidade, dos próprios governantes e reguladores, que por regra de "saudável convivência", trocam a isenção analítica do negócio pela choruda comissão, sob a forma de emprego, avença ou fantástico negócio.

Esta ponta do icebergue que agora se revela, tem uma infindável extensão de contornos retorcidos, protagonistas coniventes e implicações sem fim, cuja extensão dos danos causados pelo simples grito "o rei vai nu" pode por a descoberto toda uma fase importante de desenvolvimento económico democrático português dos últimos 20 anos, que inevitavelmente estabelecerá paralelismos com a actuação da familia e ligações ao periodo do estado novo.

Hoje, Ricardo Salgado foi detido para averiguações, passagem que presumo breve, pois a informação de que dispõe envolve demasiadas pessoas cuja exposição ao caso Bes pode ser um epitáfio na carreira política/ empresarial.

Estamos ainda longe de compreender a extensão do dano provocado por mais de duas décadas de sucessivas alavancagens e descapitalizações de um esquema empresarial em pirâmide, mas o grupo Bes escancara as portas de Portugal aos mercados globais e isso torna- o deveras apetecível aos olhos dos verdadeiros tubarões da finança global, os JP Morgan, Goldman Sachs e o Santander.

E aqui vemos que apesar de influente em Portugal, Ricardo Salgado, bilderberg (dos tempos da amizade com Balsemão), não é mais que um peixinho num lago de peixes muito maiores, vorazes e mais importante de tudo, sem rosto.

No fim de todos estes anos, Ricardo Salgado foi isso mesmo, um rosto, alguém onde publicamente se possa depositar o ónus da culpa, dos resultados e da gestão.
Safar-se à melhor que a maioria dos portugueses, pelo conhecimento de causa que tem dar-lhe ão todas as facilidades, ficará apenas sem o Bes engolido pela ingerência externa, partilhado como espólio das guerras económicas pelo império financeiro global.

Algo que pode acontecer a qualquer um que jogue monopólio com assiduidade, mas é sempre de louvar alguém que tem a capacidade de construir castelos de cartas ou negociar sem dinheiros.

Vai-se safar e bem...

Comentários