Se eu te grandolar, chamas-me fascista?

Lisboa 21/02/2013

Nasci em Lisboa e vivi boa parte da minha infância num local sob as rotas dos aviões que chegam e partem ao aeroporto da Portela.
Passavam aviões a cada 5 minutos, a baixa altitude e o som que provocavam, abafava tudo à sua passagem, incluindo o nosso próprio discurso.
Nunca me ocorreu, que poderia chamar um avião de "fascista", pelo facto do seu trânsito considerado regular, limitar a minha liberdade de expressão.
Mas os tempos mudam, os franceses da Vinci querem construir um novo aeroporto em Lisboa e com sorte as rotas serão desviadas para as novas instalações.
Mas há muito tempo a esta parte, que os aviões não condicionam o meu discurso...
Era o que faltava, a inibição de comunicar pelo trânsito aéreo.
Claro está, que eu poderia  supor uma cabala de esquerda ou de direita, as duas faces da mesma moeda e onde certamente existe pelo menos um representante em cada voo, mas não seria por isso que o avião seria menos ruidoso à passagem.

O episódio das sucessivas grandoladelas, faz-me lembrar a visita de estudo de ecologia, em que o meu amigo Xico passou o dia a grandolar, pacificamente, com os colegas a manifestarem-se ad nauseum contra o grito de liberdade repetido à exaustão...

A malta ainda tentou tirar a liberdade ao Xico, que grandolava como se não houvesse amanhã, mas havia... Ainda só corria o ano de 2001 e já nessa altura muita coisa precisava ser grandolada...
Já os fascistas, eram os mesmos dos tempos do outro senhor, com os mesmos tiques e vícios dum tempo em que era necessária uma licença para utilizar um isqueiro, como agora o é para manifestar opinião...

Quando se vive numa República Democrática, engolida por um Federalismo, que vive no aparelho digestivo de um império, todas as fronteiras e os valores se esbatem... Regra geral a troco de uns trocos.

É certo que somos nós que pagamos, mas é o BCE que financia, para poder cobrar mais à posteriori...
Quem cria o dinheiro, as leis e os rumos tem o suposto poder do avião, de abafar os outros à sua passagem, na inevitabilidade do rumo traçado.

Se quem manda (ou espera mandar...), não tem a colaboração das pessoas e o reconhecimento público da liderança, apenas lhe resta a força como meio de fazer cumprir o que estipula a seu bel prazer ou por acção de forças maiores.

Se usar dessa força para coagir e silenciar, então já perdeu a liderança e é apenas mais um ditadorzeco para a história chicotear.

Está visto que a evolução da sociedade, da economia e da política não cabe, nem é previsível em folhas de cálculo do excel, pois em nenhuma quadricula surge uma fórmula de cálculo para o potencial humano e criativo, algo que a ciência ainda não quantifica e muito menos consegue modelar as consequências e repercussões.

Mas a consciência colectiva produz resultados no mundo concreto e adjuvada em força pelas redes sociais, a manifestação é quase instântanea.

O cidadão tem assim a liberdade de sair da rota dos aviões e a inevitável força dos números do seu lado...
Mas o português benévolo, continua a viver com o marco alemão, a receber pela falência conjunta e a pagar a reunificação Alemã, ainda há almoços de borla, afinal!

Podemos grandolar à vontade o que quisermos...
A comissão liquidatária a que chamamos governo podia grandolar em Bruxelas, como o Papa Bento podia grandolar o conclave no Vaticano...
Podiamos todos grandolar um bocado, exportar a música do Zeca pelo mundo criar um hit global e gerar valor.

O sinal é claro, mais claro não podia ser...
Mas quem de direito se auto intitula de legítimo representante, ao ser presenteado com estes sinais e vira a cara para o lado,, repudiando o feedback popular de uma realidade que é vista da janela de um avião e percepcionada pelas quadriculas do excel...?

Nada importa que o avião seja de vidro ou papel, que a autoridade ética e moral seja uma anedota constante, que a democracia, os direitos e os deveres sejam flexíveis ao sabor dos dinheiros e das clientelas...

Podem ser saneados, espiados, devassados e o diabo a quatro...
Maçons ou obreiros da Opus, receber por fora, por dentro e entre folhos.
Não estão para servir, mas para se servir...
E está tudo bem, é o procedimento político normal e o regular funcionamento de quem ocupa os lugares nas instituições!

Cantar uma canção e não deixar um ministro brilhar como é suposto, apesar de não ter a dignidade de se afastar por evidente carestia ética e moral, isso não... É de facho!

Estar colado ao tacho, é fazer pela vida...
Ser um lambe botas, carreirista... é o procedimento aceite!
Sanear pessoas, ignorar a sociedade civil e aprovar legislação por conta é o regular funcionamento das instituições da cunha e do amiguismo...

Não deixar o ministro falar por já não conseguir ouvir o espelho da descrença política, é fascismo!
Como no protesto, estava pelo menos um membro do PCP, o estadão generalizou logo...
Voltámos imediatamente ao PREC, e as grandoladas, fizeram soar o alerta vermelho de uma cabala comunista, com inevitáveis comparações com a Coreia do Norte e a memória de Gulags...

Feliz o povo e a nação, onde perante as circunstâncias actuais, se protesta cantando músicas de liberdade para abafar a voz de alguém que é legítimo representante das folhas de excel.

Os aviões continuam a abafar as vozes, o poder ignora os sinais e a atmosfera está carregada de electricidade...
A vantagem de quem tem os palanques sempre à disposição é mesmo esta, poder apontar o dedo aos outros dos seus próprios comportamentos.

Está tudo ao contrário, as vítimas são os opressores e os oprimidos pelo Diktat economik... são os fachos!
Ainda assim prefiro as grandoladas, aos cocktail molotov, meteoritos ou atentados com aviões, que comprova mais uma vez o pacifismo reinante em Portugal e como vivemos apesar de tudo no centro do globo, num pedaço de paraíso.


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