Chove dinheiro em Portugal


Depois do alerta vermelho do fim de semana, das rajadas de vento de 130 km/h, dos nevões, das árvores caídas, do granizo, da chuva e da neve, contabilizam-se os danos materiais e progressivamente restabelecem-se os acessos, as comunicações e a energia.
Como é certo que depois da "tempestade vem a bonança", ficou provado (mais uma vez) que jamais podemos subestimar as forças da natureza, algo infinitamente maior que a nossa simples condição de humanos.

A "bonança" que ainda não se materializou na atmosfera e na melhoria das condições climatéricas, manifestou-se através do ministro Gaspar.

De uma rajada só e aproveitando o facto de meio país estar em "alerta vermelho" às escuras, cumpriu as metas do défice, fez bater tudo certinho nas folhas do excel e eis que:
Portugal regressa aos mercados!
A notícia é fantástica e relança o ânimo do eterno "crescimento económico".

Finalmente o governo de Passos Coelho cumpre uma promessa, a de regressar aos mercados em 2013.

O que não é dito à generalidade dos portugueses com todas as letras é o que significa verdadeiramente
"o regresso aos mercados".
(Um título digno de um episódio da saga dos Senhor dos Aneis, desta feita Frodo ao invés de levar o anel às profundezas de Mordor, leva-o a uma dessas lojas que compra ouro e que existem em todo o lado, fenómeno de tal forma grave que supera em quantidade os mercados chineses, designados carinhosamente pelo público como "lojas do chinês")

Quando Portugal solicitou ajuda externa através do episódio "Estou bem assim Luis" com o caricato engenheiro de voz nasalada, mais não fizémos do que contrair um empréstimo milionário para pagar dívidas, provenientes de outros empréstimos milionários, que a benemérita UE nos "dava" para nos desenvolvermos ao nível Europeu.
Basicamente pagaram-nos durante anos para desmantelar todo o tecido produtivo e industrial e sermos apenas consumidores natos.
O sistema financeiro gera dinheiro por geração espontânea através do crédito e respectiva colecta de juro, é portanto imperativo que se façam empréstimos, para que o sistema actual funcione... Ai D. Branca!
Os bancos centrais emprestam aos nacionais, que por sua vez financiam os estados (e vice versa), os bancos decidem paulatinamente a quem emprestam e as condições de pagamento, para pessoas e empresas.
A banca tem portanto controlo directo sobre quem pode ou não ter acesso a largas somas e decide livremente quem financia.
Mas terá sempre que pagar com juros e taxas, porque o objectivo nº1 do banco é gerar lucro, enquanto simula a guarda do dinheiro alheio.

O regresso aos mercados anunciado, significa apenas que vamos poder endividarmo-nos (mais ainda...) para pagar dívidas. E continuar a alinhar neste esquema, manter o regabofe, os BPN´s, a comissão, a legislação por conta e derivados tóxicos.
A generalidade dos portugueses, essa paga mais por menos e neste contexto começam a questionar-se quais as funções de um governo.
Talvez seja necessário mais do que uma simples cruz a cada 4 anos para que alguém se ache no direito, se endividar em nome de Portugal e das gerações presentes e futuras.

Voltar aos mercados é a recompensa, por sermos bons alunos, implementando uma recessão forçada, que permitiu aos especuladores lucrarem 57% com divida portuguesa em 2012, enquanto são criadas leis por medida que fixam rendas para a vida sob a forma de taxas camufladas, à custa de quem trabalha ou sobrevive a tentar.

O preço do regresso aos mercados:

Após todas medidas de austeridade tomadas pelo executivo de Passos Coelho, com a cantiga do memorando, do anterior executivo e da consolidação orçamental (feita essencialmente à custa de direitos dos cidadãos como a saúde, a educação, os salários e as reformas), os quase 20% de desemprego, a quebra abrupta e acentuada do consumo, as falências, o assalto e coacção fiscal e todas as privatizações a preço de saldo para amigos (Como exemplo temos pavilhão Atlântico que custou 55 milhões e foi para o genro de Cavaco por 21, que mesmo não tendo dinheiro, presumo ter acesso a crédito fácil.).
Este foi o rumo previsto e que não estava reflectido nas pérolas da campanha para eleger Passos Coelho e que nos farão no futuro a todos muito saudosistas deste governo e deste presidente.

A 2ª ajuda externa não dá, voltamos antes ao mercados

É perceptível através do relatório encomendado ao FMI e do amigo Moedas da Goldman, que o governo não dispõe de legitimidade para implementar um 2º memorando da troika, sem haver eleições...
Seguro pôs-se todo ele em bicos de pés, falou alto e não se comprometeu com nada dicando tudo em codfish waters, ou águas de bacalhau para leigos.
Ora bem, se o estado encaixa menos, se o mesmo estado deve mais do que devia quando estava falido antes de o governo iniciar mandato e não pode pedir 2ª ajuda sem ir eleições...

Faz-se Portugal regressar aos mercados, chove dinheiro novamente e todos ambicionam ser poder.
As "mudanças" de consolidação orçamental e os tão odiosos como desiguais "sacrifícios", tornam-se de carácter permanente, para pagar os juros infinitos exponenciais dos créditos milionários que tomam em nosso nome e a recessão forçada que implementam para fazer face aos compromissos que somos obrigados a tomar...
Compromissos assumidos por uns e pagos por outros!
Chamam isto de República Democrática, enquanto falam de constituição e refundação do estado, mas à porta fechada e de costas para a sociedade civil.

É fácil perceber que a bolha especulativa do crédito vai estourar novamente, ninguém sabe como, quando ou qual o pretexto desta vez para implementar mais uma ilusão.
Talvez coincida com o pedido da 2ª ajuda externa e consequente queda deste governo, algo já previsto depois de implementada toda a austeridade impopular que Seguro não se compromete a reduzir, mas da qual pretende usufruir como 1º ministro, se lá chegasse...
Dado que entretanto ocorrerão os característicos fenómenos rotativos do centrão, com as respectivas movimentações no PS.
Tenho apenas uma dúvida...Agora que voltámos aos mercados, seremos obrigados a pedir factura cada vez que se compra dinheiro...? 

Fica a 1ª análise política de 2013 do bistrot Farplex.

Aproveitem as oportunidades, chove dinheiro em Portugal... E não só!

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