A novela Grexit II- O referendo

Resultado do referendo grego às propostas da troika

Realizou-se ontem o aguardado referendo grego, pela 1ª vez da história da UE com troika, um povo deu o seu parecer às imposições unilaterais dos não eleitos, 2500 anos depois de Péricles, os clássicos gregos continuam a dar lições de democracia e autodeterminação ao mundo.

Em Portugal foi um chorrilho de contra informação, a começar pela vitória do OXI=Não ou do Nai= Sim, mas nenhum jornalista referia qual a pergunta do referendo, pelo que édificil responder sim ou não, quando não se sabe a quê.

Ele era a saída grega do euro, da UE e até da própria Europa, flutuando pelo mediterrâneo à deriva, separando-se do velho continente como a jangada de pedra de Saramago, todo o tipo de disparates verbalizados pelos comentadores, jornalistas e patrocinadores do status quo europeu. Senhores zarolhos que acham intolerável a divida grega, mas normal o comportamento da troika, o BPN, os submarinos, o BES e o que ainda há de vir... Varrido que está debaixo do tapete.

Há um grande cinismo neste neocolonialismo económico financeiro da banca, do excel e das projecções económicas marteladas ou das estatísticas convenientes. Consequência directa de termos confiado a Alemanha a produção e distribuição do nosso dinheiro para lhes adquirirmos as exportações.

Sem PIGS e corrupção das suas mais altas instâncias, não há milagre económico germânico, a não ser que ressuscitem o pequeno moreno do bigode ridículo carregado de cruzes teutónicas.

Os gregos festejaram, mas muitos europeus festejaram e Portugal festejou, pela 1ª vez um povo europeu exprimiu-se com clareza acerca da actuação de especuladores não eleitos, sobre estados democráticos independentes e apesar das ameaças de apocalipse global no dia seguinte, saídas do euro, da UE ou mais estupidamente da Europa, nada disso aconteceu.

Demitiu-se o já icónico e críptico Varoufakis (algo me diz, que ainda voltará!), bem como o líder da oposição Antonis Samaras.
No resto da Europa, os neoliberais pró austeridade, com Portugal à cabeça, que juraram que venceria o sim à austeridade, após ameaças várias de fallout nuclear monetário, meteram a viola no saco perante a estrondosa vitória do não às medidas da troika (mais de 60%), calaram o bigode e foram ligar para os spin doctors, para afinar os discursos do dia seguinte.

O PS tenta cavalgar a onda Syriza sem sucesso, o PSD/CDS está simplesmente em gestão de empregos com as legislativas à porta, politicamente alinhado com o espectro oposto ao Syriza e cego demais para perceber que o "bom aluno" Portugal é mesmo a seguir à Grécia no caso da queda para fora do eurostate, algo que nem sequer está previsto nos tratados europeus de cariz claramente expansionista e aglutinador colonial.

A situação em Portugal é tratada com a ignorância costumeira de quem precisa ganhar eleições no Outono, com as televisões, jornais, comentadores e políticos embrenhados no medo de perder uma suposta posição de lambe botismo subserviente, mas extremamente lucrativa.

Isto tudo porque a maioria dos portugueses, fruto da contra informação, pobrezinho mas honrado, confunde o empréstimo do carro e da casa com os empréstimos multimilionários feitos aos estados da UE.

Aquilo que emprestámos à Grécia é menos do que 10% de um BPN, menos de 10% do que a Marilú entregou orgulhosamente ao FMI o mês passado.
Pago com sangue suor e lágrimas, de quem se vê privado de emprego, de saúde, educação, que vive na precariedade, a quem subtraem rendimentos ou vê o futuro comprometido pelas folhas de cálculo do excel, os autómatos da troika e do governo, fechados em gabinetes longe do mundo real, insensíveis ao lado humano da sociedade, movidos apenas pelo dinheiro como mercadoria alemã, que permite o acesso, adivinhe-se, às restantes mercadorias alemãs.

Pela 1ª vez um povo europeu opôs-se a esse estado de coisas, teve direito a exprimir a sua opinião que chegou a quem de direito e só por isso, não terá valido já a pena o prometido referendo grego do qual a UE fugia?

Valeu a pena, claro que sim... A autodeterminação de um povo não tem preço.

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